Pô ! Onde somiu o antigo site ?

Talvez vocês conhecessem Língua Afiada há alguns anos. Nele publiquei recados em português, sejam originais, sejam traduzidos do francês. Infelizmente e de repente, Microsoft resolveu fechar todos os sites dela sem avisar a galera. Graças a Deus (de nada, meu filho) guardei dois textos aqui no meu computador mesmo. Hoje estou passando-os para o Google "blogger" com a esperança dele ficar mais fiel que o MS.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Viva o fim do mundo


Este texto já fez cinco anos, e a Saga de Lost acabou ... Por tanto,  não mudaram tantas coisas e o fim do mundo está demorando. Por isso, publico novamente a cópia que ficou escondida no meu computador


Dizem que vai acontecer amanhã, ou tal vez chegue o mês que vem, e isto me alegra bastante; ouça-me bem : eu não quero morrer de nenhum jeito, não; se por acaso tivesse a escolha ia viver até sempre, ia escrever milhares de artigos no meu blog, tocar todas as músicas de Lennon/McCartney e namorar todas as mulheres que não conheço ainda (e são muitas). Mas ... entendi há muito tempo que a felicidade ... tem fim.
Pois é, já que todos temos de voltar à poeira, gostava de não ir embora ... sozinho. Morrer deixando atrás de mim uns filhos desesperados, amigos chorando, inimigos se alegrando (a não ser o contrário); partindo sem ter conhecido o segredo da ilha do Lost, sem ter visto o Rambo XVII, sem ter escutado o show dos noventa anos do Mick Jagger; faltando o jogos olímpicos de Bagdá em 2052 e a colonização de Marte pelos Afegãs ...
Pelo menos, se acontecer amanhã o fim do mundo, vou morrer feliz, sabendo que estes eventos não terão lugar. A minha curiosidade vai ficar satisfeita, não terei aquela imensa vontade de voltar para saber como a história vai continuar. E a minha namorada, que algum dia me falou “o dia que você for embora, não poderei sobreviver” ... ela vai honrar a própria promissa, tenho certeza !!!
Devo confessar, portanto, no fim do mundo apenas estou percebendo vantagens; só podia me incomodar se chegasse antes da hora, a Hora com aga maiúsculo, minha hora. Aí, vamos combinar uma coisa : concordo em adiar o apocalipse com ... vamos lá ... 20 anos, mas aí eu quero uma garantia formal que eu não vou partir antes do dia marcado. Combinado ?    

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

a Rainha da bateria


A primeira vez que encontrei a Rainha da bateria, ela estava sentada atrás do balcão do Blokker. Para quem não conhece o Blokker® preciso explicar que é uma loja comum em muitas cidades da Bélgica e da Nederlândia, uma loja que vende mercadorias de camelô ... só que aqui não existem camelôs, senão empresas internacionais que os substituem.
Mas, chega de aulas e voltamos ao assunto : a rainha pois estava lá sentada ao lado da caixa, me perguntando «vai pagar com cartão ?» Eu tinha comprado um chaveiro, porém não era um qualquer chaveiro ordinário com apenas um aro, uma corrente e um escudo da Alfa Romeo ... nada daquilo. No lugar do escudo do carro ficava uma “câmera digital” pequenina, que em português certo é preciso nomear de “maquininha numérica de retrato”.
Visto que o preço dela era menor que o tamanho da máquina – e incluía uma pilha nova - resolvi tirar na sorte e comprei-a, com muitas dúvidas, mas pouco risco.
Mal cheguei em casa que quis ligar o aparelho para testar o funcionamento dele. Abri a caixa e aí descobri uma MDR (máquina de retrato) do tamanho duma caixinha de fósforos, um cabo USB (uso sanitário do bidê) e uma pilha AAA (alimentação do alcoólico anônimo). Botei a pilha dentro da MDR anã, apertei o botão e nada aconteceu : a anã não tinha tela, apenas um quadradinho para visualização de 5 teclas quando muitas; naquele caso não apareceu nenhuma.
Aí liguei a máquina ao cabo e o cabo à tomada do computador, o quadradinho publicou “0photos”. Será a pilha que não presta ? Infelizmente, não tenho nenhuma AAA em casa para trocar. Procurei o controlador elétrico e indaguei a pilha que aí confessou ter ficado vazia !!! Nem sobrou um elétron nela.
As pessoas que me conhecem sabem de que não gosto de ser enrolado por ninguém, ainda menos pelos comerciantes, por isto voltei muito irritado ao tal Blokker para rodar a baiana. A rainha ainda estava reinando sobre a caixa dela, servindo sem vergonha mais vítimas futuras da sua perfídia. Falei em voz alta para todos escutarem, erguendo na mão a arma do crime “acabo de comprar esta coisa de você mas a p. da pilha já estava vazia, até passei o amperímetro nela”.
A mulher não se assustou, reagiu com calma, pegou a bateria na mão, deu uma olhada nela e aí pronunciou com solenidade “O senhor precisa tirar o plástico da bateria antes de usá-la”.
Dali para frente eu lembro dela como Rainha da bateria, enquanto eu fiquei como o palhaço do Blokker.