Pô ! Onde somiu o antigo site ?

Talvez vocês conhecessem Língua Afiada há alguns anos. Nele publiquei recados em português, sejam originais, sejam traduzidos do francês. Infelizmente e de repente, Microsoft resolveu fechar todos os sites dela sem avisar a galera. Graças a Deus (de nada, meu filho) guardei dois textos aqui no meu computador mesmo. Hoje estou passando-os para o Google "blogger" com a esperança dele ficar mais fiel que o MS.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

O dia que Tia Dora ia voltar para o Rio de Janeiro

O ano novo passara depois de 3 dias, os foguetes iam acalmando-se aos poucos assim como o funk. A próxima segunda feira seria dia de trabalho para todos (menos o gringo que sou eu).
Aí, a Dona Márcia resolvera: “amanhã vamos acordar cedinho e sair da casa de férias antes do meio dia, melhor para escaparmos dos engarrafamentos no caminho a Rio de Janeiro”. Assim falou a Dona Márcia, todos escutaram e concordaram, o que era a voz da sabedoria. Porém, ninguém acreditou nem uma palavra, já que a Dona costumava fixar alvos impossíveis no seu respeito (na ida, ela decretara uma partida às 3 da tarde que se tornaram 7 da noite).
Contudo, a galera não tinha opção, o carro Palio é da Senhora, e os três passageiros não pretendem guiar um carro. O primeiro passageiro, a Luna, porque é cadela, embora ela pense que é gente (eu acho que é raposa mas não tenho como contradizer uma femeia).

O segundo passageiro, o César, é o marido da chefa, era taxista, já foi taxista em realidade, hoje a saúde dele não lhe permite mais guiar. O terceiro passageiro é uma passageira, é a Tia Dora, amiga do casal por herdança, já que era muito ligada com os pais da Márcia. Quando os pais morreram, a Tia Dora se aproximou das filhas e agora ela participa de todas as comemorações familiares.

Então, o dia seguinte – que era o domingo logo apôs do ano novo – Tia Dora acordou cedo e sorridente. Ás sete, ela tinha varrido o quarto, dobrado os lençóis e a cobertura, arrumado a mala dela e finalmente fechado-a. Ela fora à praia, tomara o último banho de mar, e a seguir banho de chuveiro; vestira uma roupa limpa, penteara o cabelo, e ficara prontinha limpinha animadinha. Tomou o café da manhã com a Luna (para ela foi água da manhã) e o César quando acordaram. Depois disso, ela lavou a louça usada e sentou numa cadeira, consciente do dever cumprido, toda prontinha arrumadinha limpinha, esperando apenas o sinal da partida.
Mas a Dona Márcia não acordava, ela só apareceu no meio dia, meio dormida meio faminta … Então, Tia Dora voltou ao trabalho, preparando um almoço para o casal, tirando pratos do armário, servindo a comida e depois lavando louça novamente. A metade faminta da Márcia ficou satisfeita mas a metade dormida quis fazer mais uma cochiladinha, e fez. Aí, a Tia Dora voltou para a sua cadeira, ainda pronta, arrumada e limpa, esperando o sinal da partida.
Na tarde, saiu no rádio uma notícia terrível e surpreendente: a estrada BR101, no trecho entre Angra dos Reis e Rio de Janeiro, estava entupida com milhares de famílias querendo regressar para casa ao fim das férias, não adiantava viajar naquela altura. A prudência comandava esperar um pouco! “Vamos lá, sairemos à noite se Deus e o trânsito permitir.” Informada, a Tia Dora ficou imóvel na sua cadeira, sempre pronta, arrumada e limpa, esperando o tempo passar.
Porém, com a noite também reapareceu a fome na barriga da Luna (menos-mal), da Márcia e do César. A Tia Dora levantou, abriu a geladeira, pegou algumas carnes e legume e improvisou uma refeição para os humanos, a cadela aproveitou os croquetes. Depois do cafezinho, quase todos concordaram que já era tarde demais para viajar, a carreteira é perigosa com a escuridão que tinha caído por surpresa às 7 e meia como cada dia do verão. A Tia Dora foi para cama, contudo pronta, mas menos arrumada e menos limpa, esperando a noite acabar.
Então, o dia seguinte – que era a segunda feira logo apôs do domingo – Tia Dora acordou cedo e sorridente ...