O
ano novo passara depois de 3 dias, os foguetes iam acalmando-se aos
poucos assim como o funk. A próxima segunda feira seria dia de
trabalho para todos (menos o gringo que sou eu).
Aí,
a Dona Márcia resolvera: “amanhã vamos acordar cedinho e sair da
casa de férias antes do meio dia, melhor para escaparmos dos
engarrafamentos no caminho a Rio de Janeiro”. Assim falou a Dona
Márcia, todos escutaram e concordaram, o que era a voz da sabedoria.
Porém, ninguém acreditou nem uma palavra, já que a Dona costumava fixar alvos impossíveis no seu respeito (na ida, ela
decretara uma partida às 3 da tarde que se tornaram 7 da noite).
Contudo,
a galera não tinha opção, o carro Palio é da Senhora, e os três
passageiros não pretendem guiar um carro. O primeiro passageiro, a
Luna, porque é cadela, embora ela pense que é gente (eu acho que é
raposa mas não tenho como contradizer uma femeia).
O
segundo passageiro, o César, é o marido da chefa, era taxista, já
foi taxista em realidade, hoje a saúde dele não lhe permite mais
guiar. O terceiro passageiro é uma passageira, é a Tia Dora, amiga
do casal por herdança, já que era muito ligada com os pais da
Márcia. Quando os pais morreram, a Tia Dora se aproximou das filhas
e agora ela participa de todas as comemorações familiares.
Então,
o dia seguinte – que era o domingo logo apôs do ano novo – Tia
Dora acordou cedo e sorridente. Ás sete, ela tinha varrido o quarto,
dobrado os lençóis e a cobertura, arrumado a mala dela e finalmente
fechado-a. Ela fora à praia, tomara o último banho de mar, e a
seguir banho de chuveiro; vestira uma roupa limpa, penteara o cabelo,
e ficara prontinha limpinha animadinha. Tomou o café da manhã com a
Luna (para ela foi água da manhã) e o César quando acordaram.
Depois disso, ela lavou a louça usada e sentou numa cadeira,
consciente do dever cumprido, toda prontinha arrumadinha limpinha,
esperando apenas o sinal da partida.
Mas
a Dona Márcia não acordava, ela só apareceu no meio dia, meio
dormida meio faminta … Então, Tia Dora voltou ao trabalho,
preparando um almoço para o casal, tirando pratos do armário,
servindo a comida e depois lavando louça novamente. A metade faminta
da Márcia ficou satisfeita mas a metade dormida quis fazer mais uma
cochiladinha, e fez. Aí, a Tia Dora voltou para a sua cadeira, ainda
pronta, arrumada e limpa, esperando o sinal da partida.
Na
tarde, saiu no rádio uma notícia terrível e surpreendente: a
estrada BR101, no trecho entre Angra dos Reis e Rio de Janeiro,
estava entupida com milhares de famílias querendo regressar para
casa ao fim das férias, não adiantava viajar naquela altura. A
prudência comandava esperar um pouco! “Vamos lá, sairemos à
noite se Deus e o trânsito permitir.” Informada, a Tia Dora ficou
imóvel na sua cadeira, sempre pronta, arrumada e limpa, esperando o
tempo passar.
Porém,
com a noite também reapareceu a fome na barriga da Luna (menos-mal),
da Márcia e do César. A Tia Dora levantou, abriu a geladeira, pegou
algumas carnes e legume e improvisou uma refeição para os humanos,
a cadela aproveitou os croquetes. Depois do cafezinho, quase todos
concordaram que já era tarde demais para viajar, a carreteira é
perigosa com a escuridão que tinha caído por surpresa às 7 e meia
como cada dia do verão. A Tia Dora foi para cama, contudo pronta,
mas menos arrumada e menos limpa, esperando a noite acabar.
Então,
o dia seguinte – que era a segunda feira logo apôs do domingo –
Tia Dora acordou cedo e sorridente ...